sábado, 4 de dezembro de 2010

Crônicas Saxônicas


Os Senhores do Norte
As Crônicas Saxônicas - Volume 3

Thorkild deixou o barco flutuar rio abaixo por uns cem passos, depois fez a proa se chocar na margem perto de um salgueiro. Pulou em terra, amarrou uma corda de couro de foca no tronco do salgueiro para atracar o barco e então, com um olhar temeroso para os homens armados que vigiavam de mais acima na margem, voltou rapidamente a bordo.
— Você — apontou para mim —, descubra o que está acontecendo.
— O que está acontecendo é encrenca — respondi. — Você precisa saber mais?
— Preciso saber o que aconteceu com meu armazém — disse ele, depois fez um gesto com a cabeça na direção dos homens armados. — E não quero perguntar a eles. Portanto, você pode.
Ele me escolheu porque eu era guerreiro e porque, se eu morresse, ele não lamentaria. A maior parte de seus remadores era capaz de lutar, mas ele evitava o combate sempre que podia porque o derramamento de sangue era mau parceiro do comércio. Os homens armados vinham avançando pela margem. Eram seis, mas se aproximaram com muita hesitação porque Thorkild tinha o dobro de homens em seu navio e todos aqueles marinheiros estavam armados com machados e lanças. Vesti a cota de malha, desembrulhei o glorioso elmo com crista de lobo que havia capturado de um barco dinamarquês perto do litoral de Gales, prendi o cinto de Bafo de Serpente e Ferrão de Vespa e, assim vestido para a guerra, pulei desajeitado na margem. Escorreguei no barranco íngreme, agarrei-me em espinheiros para me apoiar e então, xingando por causa dos espinhos, consegui subir. Eu já estivera ali antes: era a ampla pastagem junto ao rio onde meu pai havia liderado o ataque contra Eoferwic. Coloquei o elmo e gritei para Thorkild me jogar o escudo. Ele fez isso e, no momento em que eu ia caminhar na direção dos seis homens que agora estavam parados me olhando com as espadas nas mãos, Hild pulou atrás de mim.
— Você deveria ter ficado no barco — alertei.
— Não sem você. — Ela estava carregando nossa única bolsa de couro, na qual havia pouco mais do que uma muda de roupa, uma faca e uma pedra de amolar. — Quem são eles? — perguntou, falando dos seis homens que ainda estavam a uns cinqüenta passos de nós e sem pressa de diminuir a distância.
— Vamos descobrir — respondi, e desembainhei Bafo de Serpente.

Trecho da obra distribuída gratuitamente pelo 
Site Bernard Cornwell Brasil com a permissão da Editora Record.

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