quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Crônicas Saxônicas

O CAVALEIRO DA MORTE
Segunda parte da série as crônicas saxônicas



Hoje em dia olho os garotos de 20 anos e acho que são pateticamente jovens, mal saídos das tetas das mães, mas quando tinha 20 anos eu me considerava adulto. Era pai, havia lutado na parede de escudos e odiava receber conselhos de qualquer pessoa. Resumindo: era arrogante, imbecil e cabeça-dura. Motivo pelo qual, depois da nossa vitória em Cynuit, fiz a coisa errada. Havíamos lutado contra os dinamarqueses junto ao oceano, onde o rio sai do grande pântano e o mar de Sæfern bate num litoral lamacento, e onde os havíamos derrotado. Tínhamos realizado uma grande matança, e eu, Uhtred de Bebbanburg, fizera minha parte. Mais do que a minha parte, já que no fim da batalha, quando o grande Ubba Lothbrokson, o mais temido líder dinamarquês, havia penetrado em nossa parede de escudos com seu grande machado de guerra, eu o enfrentei, derrotei e o enviei para se juntar ao einherjar, o exército de mortos que festejam e copulam no palácio de cadáveres de Odin. O que eu deveria ter feito então, o que Leofric me mandou fazer, era cavalgar a toda velocidade até Exanceaster, onde Alfredo, rei dos saxões do oeste, estava sitiando Guthrum. Deveria ter chegado tarde da noite, acordado o rei de seu sono e posto, aos pés de Alfredo, o estandarte de batalha de Ubba com a imagem do corvo preto e o grande machado de guerra de Ubba, ainda com uma crosta de sangue na lâmina. Deveria ter dado ao rei a boa notícia de que o exército dinamarquês estava derrotado, que os poucos sobreviventes haviam ido para seus navios com cabeças de dragão, que Wessex estava em segurança e que eu, Uhtred de Bebbanburg, havia realizado todas essas coisas. Em vez disso, fui encontrar minha mulher e meu filho. Aos 20 anos eu preferia estar montando em Mildrith do que colhendo a recompensa da minha sorte, e foi isso que fiz de errado, mas, olhando para trás, tenho poucos arrependimentos. O destino é inexorável, e Mildrith, ainda que eu não tivesse desejado me casar com ela e pensasse detestá-la, era um belo animal para ser montado. Assim, naquele fim de primavera do ano 877, passei o sábado cavalgando até Cridianton em vez de ir até Alfredo. Levei vinte homens e prometi a Leofric que estaríamos em Exanceaster ao meio-dia do domingo e me certificaria de que Alfredo soubesse que havíamos ganhado sua batalha e salvado seu reino.
— Odda, o Jovem, já deve estar lá — alertou Leofric. Leofric tinha
quase o dobro da minha idade, era um guerreiro endurecido por anos lutando contra os dinamarqueses.
— Ouviu? — perguntou ele quando não falei nada.
— Odda, o Jovem, já deve estar lá — repetiu —, e ele é um merdinha que vai receber todo o crédito.
— A verdade não pode ser escondida — respondi altivo.
Leofric zombou disso. Era um brutamontes barbudo e atarracado que deveria ser comandante da frota de Alfredo, mas não era bem-nascido. E com relutância Alfredo me havia concedido o controle dos 12 navios porque eu era ealdorman, um nobre, e era justo que um homem bem-nascido comandasse a frota dos saxões do oeste mesmo que fosse idiotice demais confrontar a enorme quantidade de navios dinamarqueses que tinham vindo para a costa sul de Wessex.
— Há ocasiões em que você é um earsling — resmungou Leofric. Um earsling era uma coisa que havia caído do traseiro de uma criatura, e era um dos insultos prediletos de Leofric. Éramos amigos.


Trecho da obra distribuída gratuitamente pelo
Site Bernard Cornwell Brasil
com a permissão da Editora Record.




Para ler um pouco mais acesse: http://bctrechoslivros.vilabol.uol.com.br/saxonicas2.pdf

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