sexta-feira, 16 de outubro de 2020

"Mamãe, eu não quero que você mude"

 "Mamãe, eu não quero que você mude"

Essa foi a resposta do Tiago, com 4 anos de idade, quando eu contei que no dia seguinte eu iria pro hospital trazer a irmãzinha.
Sempre que me lembro desse momento, voltam aquele nó na garganta e as lágrimas que precisei conter.
Será que ele já sabia da enorme mudança que haveria em nossas vidas?
Fico pensando no que passou pela sua cabeça, ou talvez no coração, que o motivou a dizer que não queria que eu mudasse. Ele não tinha como saber o quanto eu mudei desde que ele nasceu e o quanto eu ainda mudaria. Mudanças... As vezes penso que é só disso que se trata a minha vida. Eu mudei tanto ao longo dos anos. Mudei minha forma de ver mundo, na tentativa de não surtar. Mudei o jeito de amar, pra não sufocar e nem ser sufocada. Mudei meu comportamento, para me enquadrar no gosto dos outros (a pior mudança que alguém pode passar e a que mais me magoou). Mudei de novo minhas atitudes, pra voltar a ser quem eu era e descobri que não era mais possível, de alguma forma eu mudei de novo sem querer. Mudei o modo de encarar a maternidade, me vi uma mãe que eu nunca imaginei me tornar. Mudei depois do aborto, mudei meu trabalho, mudei depois da segunda gravidez, depois do parto, das primeiras vacinas, dos primeiros alimentos, depois da terceira gravidez, mudei tudo. Meu Deus! Será que sobrou alguma coisa em mim que não se transformou? Talvez... mas não garanto que até terminar este texto eu não tenha mudado de novo.
De uma coisa estou certa, algumas mudanças são extremamente necessárias.
Se não mudamos, dificilmente conseguiremos atingir nosso potencial.
Penso que precisamos saber onde queremos chegar e quem queremos ser para mudar o que for preciso.
Até mesmo a forma de amar nossos filhos muda, amamos aqueles bebês que ficam aconchegados em nosso colo, mas precisamos mudar e saber amar quando eles não querem mais o colinho da mamãe, quando querem explorar cada canto de casa. E precisamos mudar de novo pra caber mais amor no coração, quando um novo filho está prestes a chegar e o mais velho não deseja a mudança.
"Mamãe, eu não quero que você mude"
Mas eu já estava mudando, nem se eu quisesse eu poderia impedir outra mudança.
Eu só não tinha palavras pra explicar a profundidade daquele acontecimento de uma forma que seu coração de 4 anos pudesse entender. Pra minha sorte, meu instinto de mãe me lembrou que eu não precisava de palavras, bastava um abraço pra acalmar seus medos.